Com uma carreira esportiva, profissional e de formação como cidadão, destinada ao vôlei, o comentarista, professor, técnico e ex jogador Cacá Bizzocchi, se apresenta para o mundo. Sua historia com o vôlei personifica uma verdadeira relação de amor, dedicação, profissionalismo e competência. Bizzocchi, em entrevista especial, falou sobre carreira, a nova safra de jogadores, a polêmica envolvendo o colunista Menon do UOL, quem deveria ser o novo técnico da seleção masculina e finalizando, a naturalização de Leal como novo jogador para a seleção de Renan Dal Zotto, após a polêmica declaração de Lipe do Sesi. Esses, entre vários assuntos, foram enfatizados.
Como você conheceu o voleibol?
Na escola, estudei no tempo em que a Educação Física era valorizada e aprendi lá a jogar. Minha família é de esportistas e também tive a oportunidade de assistir e conviver com atletas da modalidade, principalmente Moreno, amigo da família e um dos maiores jogadores do Brasil.
Como virou atleta, posteriormente, técnico?
Fui treinar nas categorias de base do Palmeiras, aos 14 anos. Lá fiquei só treinando, sem nunca ser federado. Por isso virei técnico aos 19 anos. Fui jogar apenas na universidade e depois joguei por dois anos no Círculo Militar de SP já no adulto.
Quando decidiu o momento de parar e se dedicar a parte administrativa? É mais fácil ser técnico ou jogador?
Decidi parar quando vi que não era grande coisa como jogador. Como já estava na faculdade de Educação Física, aproveitei um convite e virei técnico. Deixei de ser técnico quando percebi que não tinha mais o “sangue nos olhos” indispensável à função. Vencer passou a ser um alívio e não uma alegria, aí repensei tudo.
Ser técnico é muito mais difícil, exige dedicação diária e o dia todo. A responsabilidade é enorme e a possibilidade de interferir diretamente no resultado é mínima.
Qual é o maior desafio, como comentarista de vôlei?
Saber escolher as palavras certas e pontuais em todos os momentos. Além da análise instantânea, é preciso ser conciso e claro na comunicação. Não há espaço para rodeios ou indefinições. Outro ponto é saber ser crítico sem ser cruel. Às vezes a vontade é afirmar que este técnico ou aquele jogador fez uma tremenda duma besteira, mas não podemos.
Recentemente, em resposta ao blogueiro Menon do UOL, tu foi bem categórico, em relação a importância da modalidade para o país. Como você o restante da mídia, na valorização do esporte em um grande jornal, site, televisão? Há má intenção ou inveja de alguns que veem que o vôlei está num patamar de excelência, ultrapassando as conquistas do futebol?
Não vejo inveja, não. Vejo a inserção de uma nova modalidade num espaço que era exclusivo do futebol (e continua sendo, de modo geral) e que tem seu nicho, seus experts e uma torcida que se especializa cada vez mais e, por isso, torna-se mais exigente em relação às informações que recebe da mídia.
Nenhuma modalidade competirá com o futebol, nem terá a importância e espaço midiático que ele tem. Mas dentro da diversidade provocada pela expansão da tv a cabo e, principalmente, da internet, a audiência pede espaços exclusivos e profissionais que entendam e respeitem o voleibol.
Existem hoje em dia milhares de crianças, adolescentes, interessadas na prática do vôlei. Com o crescimento, em termos de média de altura na modalidade, tem sido um esporte cada vez maior, feito para gigantes?
O aumento da média de altura no voleibol é consequência de um aumento da média de altura da população mundial e das exigências do esporte a partir de uma evolução tática que vem desde a década de 1980. Para competir com os soviéticos era necessário ter jogadores mais altos, a seleção começou a ser também pela estatura.
A iniciação motora mais precoce com acesso a informações sobre desenvolvimento motor e vivências desde bebê ajudaram a fazer com que os “grandões bobos” virassem “grandões espertos”. Os mais altos chegavam para aprender a jogar com muito mais qualidade motora, e isso impulsionou o aumento da estatura média com qualidade técnica compatível com a necessidade do esporte.
Creio que o vôlei chegou a um ponto que poucos centímetros serão acrescidos à média geral. Temos levantadores de 2m, centrais de 2,12m e ponteiros de 2,10m. Não vejo muito espaço para crescer!
Existe alguma possibilidade de alguém menor, com menos estatura jogar voleibol? Existe um padrão de altura para cada posição? Qual seria?
Deve-se diferenciar o nível internacional do nacional. Jogadores mais baixos ainda terão espaço no voleibol regional, enquanto apenas os mais altos terão oportunidade de defender a seleção. É uma exigência do alto nível internacional. Nada impede alguém mais baixo, no entanto, de jogar recreativamente ou semiprofissionalmente, neste caso, deve-se obedecer ao prazer da prática.
Qual mensagem, você deixaria para o jovem que quer ser jogador?
Se ele gosta de voleibol, que o pratique com muita vontade e disposição. O vôlei é um esporte que constrói o caráter, a cooperação e gera uma convivência amigável e pacífica. Se quiser ser um atleta profissional, tenha certeza de que possui as características físicas e fisiológicas necessárias, melhor um atleta amador feliz do que um pretenso profissional frustrado.
Como você analisa o desempenho da seleção feminina, que está sem algumas das principais jogadoras e em reformulação? Está como você esperava, melhor, ou aquém?
O Brasil passa por um momento de reformulação e de superação. Vem de uma derrota em casa nos Jogos Olímpicos e tem uma nova geração que não é tão talentosa quanto às anteriores. Vai ter mais dificuldade do que em outros ciclos olímpicos, mas com os reforços das mais experientes pode fazer um bom Mundial em 2018. Mas que não se espere aquela constância de pódios e medalhas, pois vai ser um período difícil.
Você aceitaria voltar a treinar alguma equipe?
Só se for para treinar uma seleção ou um clube no exterior, com garantias de continuidade e condições de trabalho adequadas.
Qual o melhor técnico de clubes no masculino? Mereceria uma chance na seleção brasileira?
Atualmente, Marcelo Mendez, do Sada/Cruzeiro. Poderia ter sido escolhido no lugar do Renan dal Zotto, mas acredito que o Renan mostrou um ótimo trabalho na última Liga Mundial.
Recentemente, houve uma polêmica no programa “Roda de Vôlei”, em que o ponteiro do Sesi, Lipe, fez duras críticas sobre a naturalização do cruzeirense Leal. Como você vê a chegada de um jogador vindo de outro país para defender a seleção? O convocaria, estando no lugar de Dal Zotto?
Não é possível ignorar a nova ordem social mundial. Estrangeiro não é mais um termo usual, somos cidadãos do mundo. Leal, naturalizado, é um brasileiro. Negar a igualdade de oportunidade a ele é negar a nova organização universal.
Sou contra fazer como o polo aquático brasileiro fez e como o Qatar vem fazendo, ou seja, montar uma seleção sem identidade nacional nenhuma com atletas que sequer sabem falar o idioma pátrio. Eu o convocaria, sim. Pela qualidade técnica e por ter este direito.
É com muito prazer e respeito, receber uma grande personalidade do nosso voleibol, o professor, comentarista, ex jogador, Cacá Bizzocchi. Não faltam predicativos pra poder falar de um profissional, com esse gabarito. Muito obrigado pela oportunidade.
O prazer é meu, Artur. Sempre às ordens. Obrigado pela oportunidade. Abraço. Cacá